Em Apenas depois da chuva, Carapiá une as águas do Nordeste profundo, que hoje se configura como o consagrado sítio arqueológico, às águas da Cidade Baixa, região da periferia de Salvador e território natural da artista, atravessada por alagamentos e inundações. A instalação em grande escala e comissionada por Inhotim marca um momento singular em sua produção por trazer o labor cotidiano da torção do ferro para o ateliê de serralheria do museu.
Pensar a obra de arte como um trabalho operário e os corpos socialmente permitidos a habitar esses ambientes de criação e força são pontos centrais na investigação de Rebeca. Da lida com o ferro, sua produção artística acontece na conjuntura entre linguagem, conflito, geografia e suas diversas narrativas. Seus interesses de pesquisa são materializados em esculturas, cobre sobre tela, desenhos, instalações, gravuras, textos e objetos.
Em consonância aos estudos do corpo em trânsito e sua pertença no mundo, Carapiá oferece uma valiosa reflexão crítica aos debates que envolvem questões relacionadas a gênero, ao racismo ambiental, bem como as relações de poder entre o discurso e a palavra. Assim, a produção de Rebeca Carapiá se estabelece em uma *cosmologia com os territórios que percorre, fazendo de sua obra a casa que guarda a memória da água.
Beatriz Lemos
Curadora Coordenadora
Deri Andrade
Curador Assistente Assistant Curator